quarta-feira, janeiro 09, 2008

 

Mudei

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Muito Mais Má
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segunda-feira, julho 09, 2007

 
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Era a primeira a vez que via o pôr-do-sol em dias; mesmo a visão borrada das barras a frente, fora de foco, não atrapalhavam. Podia finalmente vislumbrar seu espetáculo preferido. Não tinha mais ambições, não tinha mais sonhos, haviam roubado seus direitos mais humanos. Haviam roubado o tempo.
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Não mais sonhava com vôos pelo azul infinito ou tão pouco com a chuva batendo suave em seu rosto. Agora, apenas se esforçava para borrar mais e mais a barra em sua frente.
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Já não via mais o luar, não apreciava as estrelas, o cheiro da relva e do orvalho, que passavam pelas barras, todo dia, logo cedo, serviam apenas para recordar que vida era o que acontecia lá fora enquanto ela padecia.
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Perdera, já há muito, a real noção da dura e pesada realidade ao seu redor. Não sabia há quanto haviam removido os grilhões, mas seu peso ainda fincava-lhe os pés no chão e, incapaz de mover-se com o peso, permanecia ali prostrada.
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Um belo dia, acordou e percebeu que as algemas já haviam se ido e, ao tentar se lembrar quando foram removidas, percebeu que já não vivia com elas, mas o pulso ainda oprimido reprimindo o batimento de vida, o sopro que lhe restava.
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Perdera a memória e com ela sua casa, família e cachorro. Perdera o ar, o amor e a compaixão. Perdera tanto, que reduzida a nada não havia mais nada para perder.
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E quando um dia a libertassem, sabia que já era tão institucionalizada, tão amarga, tão oca, que mesmo que sua casca saísse andando pelos campos, visse os pássaros, sentisse a chuva, já não sentiria mais nada, não faria mais nada, não amaria a mais ninguém.

terça-feira, junho 19, 2007

 

TPM

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- Qual o seu maior sonho na vida?
- Virar a Paris Hilton e ser uma vadia.
- Você quer ser preso e dar pra todo mundo? Esse é seu maior sonho?
- Não, quero ter muito dinheiro e dar pra todo mundo. Não seria preso porque sou mais inteligente que ela.
- Se você fosse ela seria tão burro quanto.
- Ok. Ok. Quero ter a conta bancária da Paris Hilton e dar pra todo mundo.
- Sendo homem ainda?
- Não, porra! Quero ter a conta bancária e aparência da Paris Hilton, com cérebro e dar pra todo mundo.
- Se é só por dinheiro e sexo seja o Bill gate só que galinha. Ou o George Clooney. Ou a verssão jovem do Warren Beatty.
- Não é só por sexo e dinehiro, é uma questão de imagem. Mas a sua idéia não é todo ruim. Por que a pergunta idiota?
- Quem aqui é idiota? Tá me chamando de idiota?
- Não... tô falando da pergunta. Calma... Relaxa...
- QUEM AQUI PRECISA RELAXAR? Sabe, ao contrário de você eu tenho sonhos. SONHOS. Sabe o que é isso? Claro que não, está muito preocupado sendo um imbecil machista.
- Você tá de TPM?
- QUAL É O SEU PROBLEMA. Primeiro me agride, depois me chama de idiota e agora fica arrumando desculpa na minha TPM que não existe para o seu comportamento repugnante.
- Eu não agredi ninguém, mas me desculpe. E me desculpe por querer ser a Paris Hilton.
- ...
- Quer um sorvete? Chocolate?
- Eu não quero nada.
- Ah! Por que você está chorando, tira esse bico e me dá um beijo.
- Eu não quero beijo e não estou chorando. Estou decipcionada com você. Sai daqui, eu não vou beijar a Paris Hilton frustrada.
- Ok. Ok. Meu maior sonho é poder parar de trabalhar e cuidar dos filhos, fazer almoço, dono de casa mesmo. Mas como eu suponho que seja o seu sonho eu abro mão dele.
- VOCÊ ESTÁ INSINUANDO QUE EU SEREI A SUA ESPOSINHA?
- Não... só disse que eu posso deixar isso pra você se você preferir. Mas sei que você é independente e quer trabalhar.
- AHHHHH! Então é isso, né? Entendo seu joguinho. Vai querer que eu te sustente. ESQUECE!
- Não é nada... nada disso... que deu em você hoje?
- Chega. Eu vou embora. Procurar alguém que me entenda, que me trate com carinho, que respeite meus limites femininos.
- Vai namorar a Paris Hilton é?
...

sexta-feira, junho 15, 2007

 

Trabalho

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Bem antes do Raulsito nascer, há cerca de 20 mil anos, algum energúmeno teve a muito infeliz ideia de partindo do pressuposto que tínhamos o telencéfalo desenvolvido e os polegares opositores, inventar o trabalho. O trabalho era para ter sido uma coisa boa, mas como tudo o que é bom nessa vida - cigarro, álcool, chocolate, doce, lasanha, coca-cola, sexo - acabou virando um perigo de vida.
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De acordo com número meramente fictícios aposto que mais pessoas morrem de infarto devido ao trabalho do que à gravidez indesejada de suas filhas de 12 anos. Aposto ainda que são maiores os casos de gastrite e úlcera no workholics do que nos fumantes que bebem 3 litros diários de café e amam suas garrafas de Jack Daniels. Não preciso pensar muito pra perceber que mais acidentes de carro acontecem no feirado prolongado porque todos estão correndo pra fugir do trabalho (não me venha com desculpinha de tráfego, de bebida... isso é balela).
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Enfim, nós criaturas tão superiores aos animais conseguimos destruir pelo excesso com absolutamente todas as coisas altamente destrutivas que criamos, tornado-as ainda mais terríveis do que a própria ideia original. Nós seres tão inteligentes, conseguimos abdicar de nossos maiores prazeres em prol do absoluto vazio da sociedade de consumo. E o que é pior.... nos orgulhamos disso.
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Hoje estou indo ao enterro do meu trabalho. Meu corpo jaz ao lado coberto de flores.

segunda-feira, junho 11, 2007

 

Vale mais que 1000 palavras...

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segunda-feira, junho 04, 2007

 

Segunda

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Havia esquecido o caminho de casa. Já há muito não reparava nas mudanças sutis que o tempo imprimia à paisagem. A árvore que cai, o botão que se abre, a casa que desde, o arranha-céu que sobe. Nunca mais escrevera uma carta, nunca mais lera um livro, nunca mais fora a banca comprar uma revista de música, nunca mais assistira as crianças no parque, ou tomara um sorvete. O som do violino, antes agradável e relaxante, agora a despertava irritada do transe.
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Havia se tornado incapaz de amar a si mesma, incapaz de viver intensamente. Aleijada de alma, coração, cores, sons. Privada do vento e do toque. Enclausurada, longe da brisa morna das manhãs de Janeiro, sem sentir a terra ir molhando ao longe no final de março, nem a rasgante secura e amargor de agosto. Amaro, amargo, seco já eram seu habitual não mais uma pequena estação.
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Apesar de ainda respirar já há muito não se podia dizer que vivia. Era apenas uma formalidade, um pequeno detalhe que precisava ser resolvido. Uma pequeno detalhe que ela resolveu, nascendo ao contrário, num lindo por do sol ao som dos pássaros.
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quinta-feira, maio 24, 2007

 

Momento Fotenha - Eu sou criança mesmo. E daí?












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